CONTEXTO HISTÓRICO DA OBRA E ANÁLISE.
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França século XIX |
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Portugal século XIX |
Para analisar o contexto histórico de Portugal a luz das ideias propostas na obra "A Cidade e as Serras", optei pelo recorte de 1871, quando aconteceram as Conferências do Cassino até 1900, quando Eça faleceu. Dentro desta periodicidade e partindo das ideias defendidas pelas personagens, pude verificar ainda que superficialmente, que a obra de Eça estabelece um diálogo com os conflitos políticos, culturais e econômicos que agitaram Portugal no período. Partindo com um olhar de iniciante no trabalho documental de uma fonte literária e compreendendo de maneira também reduzida a obra de Eça que possui muitos debates importantes, procuro pensar as principais questões para a nação ibérica da segunda metade do século XIX, dentro da composição da obra de colocar entre os dois personagens Zé Fernandes e Jacinto, o desenvolvimento de ideias que em tese eram ideias dos debates que agitavam Portugal para a ordenação e modernização do País.
A segunda metade do século XIX é uma época em que o mundo passava por grandes transformações de ordem política, social, econômica e ideológica. Toda essa dinâmica de mudança deu-se após a Rev. Industrial e ao acelerado desenvolvimento e crescimento do sistema capitalista, principalmente a partir da década de 1870 quando a forma do capitalismo antigo de concorrência livre (capitalismo industrial) foi substituída e ordenada para o capitalismo moderno (capitalismo financeiro) de caráter mundial. Essa reordenação no sistema econômico para o capitalismo financeiro não se deu de maneira igualitária e nem se fundamentou pelas mesmas bases políticas entre os diversos países. Este aspecto conflituoso é importante e fundamental porque definiu relações complexas entre os países que disputaram os novos mercados na corrida Imperialista.
Antes da institucionalização para a corrida Imperialista entre os países na Conferencia de Berlim em 1884/85, vale ressaltar que o otimismo do crescimento e a da expansão do capitalismo sofreu sua primeira crise de proporções mundiais em 1873. As crises do sistema capitalista são cíclicas e fazem parte da natureza do próprio sistema econômico. Essa “depressão” de 1873 caracterizou-se pelo subconsumo, e provocou à estocagem de mercadorias e a baixa dos preços, ocasionando desemprego. A capacidade de produzir mercadorias cresceu num índice muito mais rápido do que a capacidade de consumo dos habitantes e deixava boa parte da capacidade produtiva das fábricas parada, diminuindo assim os lucros. A saída para essa crise principalmente entre os grandes países industriais no momento (Inglaterra, França, Alemanha e EUA), foi à corrida Imperialista, na busca de encontrar nos mercados estrangeiros o escoamento do excedente da produção.
As definições das Conferências de Berlim entre 1884 e 1885, chamadas pela Alemanha com o objetivo de definir os territórios de ocupação para manter o equilíbrio político entre os países europeus, reforçando o debate entre direitos históricos e direitos de ocupação, possibilitou por parte da Inglaterra o Ultimato a Portugal. A Inglaterra exigia a retirada das forças militares do território compreendido entre as colônias de Moçambique e Angola que Portugal havia incluído no mapa cor-de-rosa, reclamando a partir da própria Conferência. Este conflito “diplomático” provocou grandes manifestações e debates na sociedade portuguesa. O governo Português acabou cedendo às exigências britânicas e esta ação foi vista como uma humilhação nacional pelos republicanos portugueses, que acusaram o governo e o rei D.Carlos I de serem os responsáveis, pela decadência do País. Havia no país um clima de grande insatisfação com a sua situação política, e resultou na fundação do Partido Republicano em 1876, e do Partido Socialista Português em 1875 como partidos de oposição ao governo.
É dentro deste contexto econômico, político e social que se passa o enredo e também o período da escrita do romance. A literatura Portuguesa neste período, assume função de critica social e de influência na construção da opinião pública e orientador na construção da governação, sendo influenciada pelas ideias de Marx e Engels. O Romantismo, que ainda vigorava no século XIX, já não era capaz de expressar o sentimento revolucionário e anárquico da época, e a própria situação histórica obrigava a literatura europeia a se transformar, e a recriar-se. A concepção espiritualista de mundo, que era característica do Romantismo passava a dar lugar ao cientificismo, ao pessimismo, ao positivismo e ao materialismo, que exerceram grandes influências no pensamento europeu. Tudo isso contribuiu para a nova configuração que a literatura e a arte de um modo geral iriam assumir no período, e agitou as ideias da jovem intelectualidade lusa.
Portugal precisava entrar em pé de igualdade com a França e a Inglaterra no desenvolvimento científico, industrial e tecnológico. Estes países, sendo sociedades mais complexas encontravam-se na ambiência da corrida Imperialista econômico-cultural; e como Portugal sairia desse “atraso”? Este era o debate que estava colocado entre os políticos e os intelectuais do período e desde a década de 1860, com O Grupo da questão Coimbrã quando a elite estudantil influenciada pelas ideias revolucionárias dos pensadores franceses alimentou entre eles o desejo de colocar Portugal em sintonia com as transformações sociais que estavam ocorrendo no restante da Europa.
Portugal precisava entrar em pé de igualdade com a França e a Inglaterra no desenvolvimento científico, industrial e tecnológico. Estes países, sendo sociedades mais complexas encontravam-se na ambiência da corrida Imperialista econômico-cultural; e como Portugal sairia desse “atraso”? Este era o debate que estava colocado entre os políticos e os intelectuais do período e desde a década de 1860, com O Grupo da questão Coimbrã quando a elite estudantil influenciada pelas ideias revolucionárias dos pensadores franceses alimentou entre eles o desejo de colocar Portugal em sintonia com as transformações sociais que estavam ocorrendo no restante da Europa.
Outro momento considerado importante foi o ano de 1871 que marca a transição do Romantismo para o Realismo em Portugal. Neste ano, estudantes também ligados a Universidade de Coimbra participaram da revolta anti-romântica e outros decidem se reunir novamente e organizar um ciclo de conferências públicas para discutirem as transformações de ordem social, política, ideológica e a possibilidade de modernização e regeneração do País.
Esse novo grupo de jovens intelectuais da chamada geração de 70, Antero de Quental, Teófilo Braga, Eça de Queirós e Guerra Junqueiro, Oliveira Martins, e Ramalho Ortigão, entre outros, tiveram importância fundamental para agitar as mentalidades, e formar uma opinião pública sobre os debates da decadência do país e seu afastamento em relação à Europa considerada culta “civilizada”. Este é o tempo da criação literária de Eça. Um tempo de pessimismo devido a fatores diversos: a crise política, social e financeira. O fin-de-siécle apaga a euforia de crescimento e de transformação dos anos anteriores, dando lugar a uma atmosfera de fadiga mental e de desilusão. Daí compreende-se a representação de tédio do personagem Jacinto. O fim do século XIX constituiu um tempo de problemática e interrogação.
Passaremos a análise das ideias de Jacinto e Zé Fernandes, depois do contexto histórico apresentado.
A Cidade e as Serras é um dos últimos romances de Eça de Queirós e foi publicado postumamente em 1901. O autor trabalhou no romance desde o final de 1893, mas a temática da obra foi publicada em um conto na Gazeta do Rio de Janeiro em 1892, intitulado “Civilização”. O enredo no que tem de comum entre as duas obras pode ser resumido da seguinte forma: a história gira em torno da personagem Jacinto, um jovem muito rico, que tem por objetivo ser o homem mais contemporâneo de seu tempo; para isso, rodeia-se do que a civilização tem de mais novo e mais promissor em termos de tecnologia e de conhecimento.
O Jacinto do conto é um homem que nasce e vive em Portugal e lá realiza o esforço de ser absolutamente moderno, levando uma vida artificial no sentido de que era impossível ser moderno e citadino sendo português e morando em Portugal, onde as experiências da sociedade tradicional portuguesa ainda não se ajustavam a acomodação do processo de modernidade capitalista, como apresentamos no contexto. Dentro desta perspectiva é possível entender que a ação do Jacinto do conto em conforma-se a vivência campestre como sendo uma história de adequação e regresso, buscando sua felicidade no meio rural, pode nesse quadro ser entendido como um reencontro das raízes e tradições portuguesas, por meio do abandono da quimera da modernidade.
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A Geração de 70 |
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O Grupo dos Cinco da esquerda para a direita Eça de Queirós, Guerra Junqueiro, Oliveira Martins e Ramalho Ortigão 1884. |
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Eça de Queirós e Ramalho Ortigão que organizou a obra após 1893. |
O Jacinto do conto é um homem que nasce e vive em Portugal e lá realiza o esforço de ser absolutamente moderno, levando uma vida artificial no sentido de que era impossível ser moderno e citadino sendo português e morando em Portugal, onde as experiências da sociedade tradicional portuguesa ainda não se ajustavam a acomodação do processo de modernidade capitalista, como apresentamos no contexto. Dentro desta perspectiva é possível entender que a ação do Jacinto do conto em conforma-se a vivência campestre como sendo uma história de adequação e regresso, buscando sua felicidade no meio rural, pode nesse quadro ser entendido como um reencontro das raízes e tradições portuguesas, por meio do abandono da quimera da modernidade.
Diferentemente o Jacinto do romance, embora seja filho de portugueses, nasce e vive todo o tempo na França, em um palacete na Avenida dos Campos Elíseos, muito luxuoso e moderno, e seus frequentadores são intelectuais, artistas e representantes do poder financeiro e da nobreza europeia. Seu único vínculo com Portugal, (especificamente da região norte do país), advém somente das rendas das propriedades que possui de herança, que lhe permitem a vida de cosmopolita. Com o passar dos anos, instala-se nesse herói supercivilizado um sentimento de tédio profundo, que corroí sua energia física e espiritual deixando-o desgostoso com a “civilização” que por algumas vezes lhe aborrecem como podemos verificar na passagem do romance do cômico episódio do jantar oferecido em homenagem ao Grão-Duque, em que um precioso peixe da Dalmácia seria servido a pedido do próprio Grão-Duque, porém o peixe acaba ficando preso no elevador de pratos que deixou de funcionar. O nobre acaba em uma situação ridícula, tentando literalmente “pescar” o peixe com um anzol improvisado, malogrando na tentativa. Este episódio deixa Jacinto muito constrangido. Em certo momento Jacinto se transfere para a zona rural e por conta de incidentes de viagem, vê-se de súbito desprovido do conforto e do aparato tecnológico.
O que o move a visitar Portugal, com relutância, é um misto de vago dever familiar e vontade de fugir ao tédio da vida citadina parisiense, e procurar por meio de uma viagem aventurosa e exótica aliviar a ociosidade e o tédio em que se encontrava. Deste modo, para o Jacinto do romance a viagem as Serras não tem sentido de retorno as origens de Portugal, visto que se reconhecia como francês e civilizado, mas aproveitou uma oportunidade de fugir da realidade de seu próprio estado tedioso.
O romance é narrado por Zé Fernandes, personagem-narrador amigo do Jacinto. Zé Fernandes tem papel fundamental na condução da história, pois as ações do Jacinto (personagem principal) e as situações da história são aspectos de suas lembranças dos fatos, ou seja, de sua memória. Zé Fernandes participa de modo decisivo na ação do romance, contracenando sempre com Jacinto e também com o leitor, articulando este, para ser favorável a sua posição cultural e ideológica, buscando no desenrolar do livro defender sua TESE de que a vida tradicional do campo é superior a vida da cidade. Para este personagem-narrador, a cidade não oferece em nada o crescimento pessoal, cultural e social de Jacinto, visto que a cidade é antinatural e perversa, pois ela causa a miséria, o isolamento, a perda do riso e a perda do espírito crítico.
Observa-se na obra que Zé Fernandes é o único personagem que transita entre os dois mundos (Cidade e Serras). Para Fernandes, o retorno as origens é a recuperação da Felicidade, e da Virtude, que se perde com a sedução da cidade. Jacinto, o cosmopolita que encontraria a felicidade no campo é o apoio e a prova que Zé Fernandes necessita para justificar sua “verdade”.
O que o move a visitar Portugal, com relutância, é um misto de vago dever familiar e vontade de fugir ao tédio da vida citadina parisiense, e procurar por meio de uma viagem aventurosa e exótica aliviar a ociosidade e o tédio em que se encontrava. Deste modo, para o Jacinto do romance a viagem as Serras não tem sentido de retorno as origens de Portugal, visto que se reconhecia como francês e civilizado, mas aproveitou uma oportunidade de fugir da realidade de seu próprio estado tedioso.
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Minha referência de Jacinto é esse quadro do Conde Robert de Monatesquiou, uma clássico dândi francês de (1855-1921), de Giovanni Boldini de (1842-1931). |
Observa-se na obra que Zé Fernandes é o único personagem que transita entre os dois mundos (Cidade e Serras). Para Fernandes, o retorno as origens é a recuperação da Felicidade, e da Virtude, que se perde com a sedução da cidade. Jacinto, o cosmopolita que encontraria a felicidade no campo é o apoio e a prova que Zé Fernandes necessita para justificar sua “verdade”.
Contrariamente a TESE de Zé Fernandes pela busca da Felicidade, Jacinto apresenta sua TESE logo no começo do livro e seu pensamento pode ser resumido, na sua famosa equação metafísica da (suma ciência x suma potência = suma felicidade). A felicidade para Jacinto reside na integração ao próprio tempo, no que este pode apresentar de mais avançado e moderno. A tese de Jacinto constituía uma regra no seu dia-a-dia, ou seja, coordenava a realidade e utilidade de sua vida, determinando sua conduta e postura moral, para ele “o homem só e superiormente feliz quando é superiormente civilizado”.
O livro apresenta duas fases de Jacinto: a primeira é a fase do tédio na cidade. Em Paris, Jacinto é um dândi. Esta palavra na segunda metade do século XIX, em um artigo do Baudelaire “O Pintor da Modernidade” significava
“o homem rico, ocioso e que mesmo entediado de tudo, não tem outra ocupação senão correr ao encalço da felicidade; o homem criado no luxo e acostumado a ser obedecido desde a juventude; aquele, enfim, cuja única profissão é a elegância sempre exibirá, em todos os tempos, uma fisionomia distinta, completamente a parte”. “Esses seres não têm outra ocupação senão cultivar a ideia do belo em suas próprias pessoas, satisfazer suas paixões, sentir e pensar”.[1]
Dândi, século XIX |
As distinções das teses defendidas pelas personagens no romance representam em certa medida os debates das elites intelectuais portuguesas sobre a modernização de Portugal. Penso que a temática central do romance é o contraste entre a vida na cidade e a vida no campo. Eça problematiza essa dicotomia para criticar o estilo de vida afrancesado e o sistema capitalista que retirava com sua fúria de trabalho e consumo, a autenticidade dos países e das pessoas, como demonstra de maneira irônica chamando Jacinto de dândi. Neste primeiro pensar, acredito que nesta fase do pensamento de Eça ele não tenha mais a mesma empolgação pelo capitalismo depois do conflito diplomático com os britânicos devidos a perda das possessões territoriais na África.
Não se pode negar que a acção do Ultimatum, ocorrido dois anos antes da primeira visita de Eça a Tormes, a nostalgia da pátria e a idade, tenham determinado um apaziguamento e inflexão, distantes já do realismo de escola com que afirmou a natureza inicial do seu talento.[2]
No início do livro a personagem Jacinto em defesa de sua fórmula científica da felicidade, Eça mostra-nos uma grande ironia crítica aos conceitos estáticos do positivismo cientifico, ou seja, para a modernidade e o progresso de Portugal era preciso encaixar como uma “forma” os mesmo princípios institucionais que orientaram a França a Alemanha e a Inglaterra.
No pensamento mais maduro do autor, visto que anteriormente também foi um participante da geração de 70, Eça na minha percepção, faz uma crítica ao pensamento de Antero de Quental sobre a modernidade e a decadência lusa. Tanto Eça como Antero e acredito que boa parte de seus contemporâneos estavam preocupadas em preservar a história nacional, mas para isso era necessário perscrutar a História do Império Português e verificar sua construção na questão da decadência portuguesa. Esse principio de decadência para Antero de Quental, recaia sobre a força da igreja católica em Portugal, com as resoluções do Concílio de Trento que atravancavam com as questões de ideologia moral, o desenrolar da possibilidade de modernidade de Portugal. Depois de encontrado os fatores de decadência, era necessário que se substituíssem pelos princípios metódicos as instituições tradicionais de autenticidade do País para se caracterizar em outro, no caso do Antero com princípios socialistas ou até anarquista.
Refazer a História de Portugal nos moldes positivistas de aplicabilidade metódica como um cientista, renegando as determinações tradicionais cotidianas e de ambiência moral, e as instituições de seu país, me parece uma critica contundente na obras as ideias de seu tempo.
A fuga do tédio do Jacinto para as Serras caracteriza sua segunda fase, que para a confirmação da tese de Zé Fernandes, será um período de redescoberta e plenitude, onde Jacinto vai sentir-se um individuo ativo e útil, podendo ter a possibilidade da experiência, aprendendo com a prática e a observação.
Jacinto do ponto de vista da prática econômica não sofre a paixão de acumular; para ele o lucro é questão sem interesse, visto que a personagem sente-se satisfeito economicamente. Nas questões políticas, mesmo sendo dono de grandes propriedades, Jacinto não oferece ameaças aos seus vizinhos de Tormes, pois as melhorias implantadas por este, não saiu dos seus domínios, e não comprometeu as relações locais, tradicionais da região. Estas mudanças ajustadas somente em seus domínios, como: reformas de casa de rendeiros, construção de escolas, farmácias, creches etc, não produziram melhorias nas condições de vida dos pobres, seja na questão da produção ou nas relações de dependência. Jacinto torna-se um reformista com aspecto paternalista ou até em certo ponto reacionário quando no capítulo XIII, é tido como absolutista enviado de D. Miguel.
Esta contraposição que Eça expõe para criticar outra forma para pensar a felicidade de Portugal, parte agora da tese de Zé Fernandes que defende o retorno as origens do campo como recuperação da felicidade. Essa temática de salvação da Nação pelo campo, ou seja, a regeneração na vida mais simples foi questão central para os românticos anteriores a Eça, como por exemplo, Camilo Castelo Branco com seu livro “Onde está a Felicidade” de 1856. Neste ponto compreendo que Eça também não concorda com a visão da personagem Zé Fernandes.
Compreendo que este retorno ao campo possui um caráter bem conservador pelas ações filantrópicas. Penso que Eça dirige uma critica ao Estado Monárquico Constitucional, que em grande parte era formado por uma elite ainda de mentalidade rural e paternalista que evoluiu lentamente para o capitalismo burguês. Eça demonstra sua critica na figura de Jacinto, pois este, sendo um grande proprietário de terras em Tormes entrega-se aos projetos de erradicação da pobreza dentro de sua propriedade, caracterizando uma ação “filantrópica jacíntica”. Na tese de Zé Fernandes não há pelo que li, um pensar Portugal moderno; somente há uma felicidade ajustava a vida do campo com ações filantrópicas para a manutenção o statu quo, das elites que promoveriam a sociabilidades das classes subalternas.
No pensamento mais maduro do autor, visto que anteriormente também foi um participante da geração de 70, Eça na minha percepção, faz uma crítica ao pensamento de Antero de Quental sobre a modernidade e a decadência lusa. Tanto Eça como Antero e acredito que boa parte de seus contemporâneos estavam preocupadas em preservar a história nacional, mas para isso era necessário perscrutar a História do Império Português e verificar sua construção na questão da decadência portuguesa. Esse principio de decadência para Antero de Quental, recaia sobre a força da igreja católica em Portugal, com as resoluções do Concílio de Trento que atravancavam com as questões de ideologia moral, o desenrolar da possibilidade de modernidade de Portugal. Depois de encontrado os fatores de decadência, era necessário que se substituíssem pelos princípios metódicos as instituições tradicionais de autenticidade do País para se caracterizar em outro, no caso do Antero com princípios socialistas ou até anarquista.
Refazer a História de Portugal nos moldes positivistas de aplicabilidade metódica como um cientista, renegando as determinações tradicionais cotidianas e de ambiência moral, e as instituições de seu país, me parece uma critica contundente na obras as ideias de seu tempo.
A fuga do tédio do Jacinto para as Serras caracteriza sua segunda fase, que para a confirmação da tese de Zé Fernandes, será um período de redescoberta e plenitude, onde Jacinto vai sentir-se um individuo ativo e útil, podendo ter a possibilidade da experiência, aprendendo com a prática e a observação.
Jacinto do ponto de vista da prática econômica não sofre a paixão de acumular; para ele o lucro é questão sem interesse, visto que a personagem sente-se satisfeito economicamente. Nas questões políticas, mesmo sendo dono de grandes propriedades, Jacinto não oferece ameaças aos seus vizinhos de Tormes, pois as melhorias implantadas por este, não saiu dos seus domínios, e não comprometeu as relações locais, tradicionais da região. Estas mudanças ajustadas somente em seus domínios, como: reformas de casa de rendeiros, construção de escolas, farmácias, creches etc, não produziram melhorias nas condições de vida dos pobres, seja na questão da produção ou nas relações de dependência. Jacinto torna-se um reformista com aspecto paternalista ou até em certo ponto reacionário quando no capítulo XIII, é tido como absolutista enviado de D. Miguel.
Esta contraposição que Eça expõe para criticar outra forma para pensar a felicidade de Portugal, parte agora da tese de Zé Fernandes que defende o retorno as origens do campo como recuperação da felicidade. Essa temática de salvação da Nação pelo campo, ou seja, a regeneração na vida mais simples foi questão central para os românticos anteriores a Eça, como por exemplo, Camilo Castelo Branco com seu livro “Onde está a Felicidade” de 1856. Neste ponto compreendo que Eça também não concorda com a visão da personagem Zé Fernandes.
Compreendo que este retorno ao campo possui um caráter bem conservador pelas ações filantrópicas. Penso que Eça dirige uma critica ao Estado Monárquico Constitucional, que em grande parte era formado por uma elite ainda de mentalidade rural e paternalista que evoluiu lentamente para o capitalismo burguês. Eça demonstra sua critica na figura de Jacinto, pois este, sendo um grande proprietário de terras em Tormes entrega-se aos projetos de erradicação da pobreza dentro de sua propriedade, caracterizando uma ação “filantrópica jacíntica”. Na tese de Zé Fernandes não há pelo que li, um pensar Portugal moderno; somente há uma felicidade ajustava a vida do campo com ações filantrópicas para a manutenção o statu quo, das elites que promoveriam a sociabilidades das classes subalternas.
Outro detalhe que ia passando, é a questão do trabalho. Tanto na cidade como em Tormes, Jacinto viverá das rendas da terra, e em Tormes empreende algumas técnicas agrícolas, e o trabalho é realizado pelos camponeses que habitam seus domínios, ou seja, em um momento de capitalismo moderno, Eça mostra-nos como a questão da propriedade agrícola se relaciona com das mudanças que estão ocorrendo.
O trabalho é o grande ausente na transformação de Jacinto. A transformação do Jacinto não passa pela via das provações do trabalho na lavoura, mas pelas mudanças nos aspectos sentimentais, passando de abatido e sem animo o que o caracterizava na cidade para ser um alegre fidalgo, saudável, satisfeito e feliz.
Imaginando uma possível tese para o autor Eça de Queirós no contexto de encontrar um rumo para a modernização e civilização de Portugal, penso que para Eça, encaminha esta questão em aliar o campo e a cidade. Quando o autor apresenta o Jacinto aliando algumas técnicas modernas ao uso do cotidiano, parece que o autor faz uma crítica às tecnológicas artificiais que não tem uma função necessária para o bem estar do individuo. Penso também que para Eça os portugueses precisavam encontrar sua autenticidade enquanto povo, e ajustar as novas ideias as suas necessidades internas que promoveriam um bem estar comum a nação. O tema central é aliar a modernidade e a tecnologia, as questões tradicionais. Foi uma questão no século XIX, ainda está presente no século XXI.
Para levantar outras questões e ampliar o aprendizado, vale visitar as páginas do Eça e rir com suas ironias perfeitas. Nada substitui a leitura da obra. Abrir parte da Cortina, cabe ainda muito mais...
Citações:
O trabalho é o grande ausente na transformação de Jacinto. A transformação do Jacinto não passa pela via das provações do trabalho na lavoura, mas pelas mudanças nos aspectos sentimentais, passando de abatido e sem animo o que o caracterizava na cidade para ser um alegre fidalgo, saudável, satisfeito e feliz.
Imaginando uma possível tese para o autor Eça de Queirós no contexto de encontrar um rumo para a modernização e civilização de Portugal, penso que para Eça, encaminha esta questão em aliar o campo e a cidade. Quando o autor apresenta o Jacinto aliando algumas técnicas modernas ao uso do cotidiano, parece que o autor faz uma crítica às tecnológicas artificiais que não tem uma função necessária para o bem estar do individuo. Penso também que para Eça os portugueses precisavam encontrar sua autenticidade enquanto povo, e ajustar as novas ideias as suas necessidades internas que promoveriam um bem estar comum a nação. O tema central é aliar a modernidade e a tecnologia, as questões tradicionais. Foi uma questão no século XIX, ainda está presente no século XXI.
Para levantar outras questões e ampliar o aprendizado, vale visitar as páginas do Eça e rir com suas ironias perfeitas. Nada substitui a leitura da obra. Abrir parte da Cortina, cabe ainda muito mais...
Citações:
[1] Queirós, Eça de. A Cidade e as Serras. (Apresentação Paulo Franchetti). São Paulo; Ateliê Editorial, 2007.
[2] Ribeiro, Clementina de Fátima Bidarra Pinto de Castro. Reaportuguesar Portugal: O sentido patriótico em Eça de Queirós. Dissertação de Mestrado em Estudos portugueses interdisciplinares. Universidade Aberta. Lisboa. 2008.
BIBLIOGRAFIAS
Schnerb Robet. O Apogeu da Civilização Europeia ( 1815-1914). O Século XIX . Volume XIII. In. História Geral das Civilizações. Ed. Bertrand Brasil. p.97-137
Ribeiro, Clementina de Fátima Bidarra Pinto de Castro. Reaportuguesar Portugal: O sentido patriótico em Eça de Queirós. Dissertação de Mestrado em Estudos portugueses interdisciplinares. Universidade Aberta. Lisboa. 2008.
Queirós, Eça de. A Cidade e as Serras. (Apresentação Paulo Franchetti). São Paulo; Ateliê Editorial, 2007.
NEMI, A. L. L. Artigo. Revista Almanak Brasiliense nº4. Novermbro-2006.
Huberman. Leo. História da riqueza do Homem. Rio de Janeiro. Ed. LTC, 2008 21ª
Hobsbwm Eric J. A Era das Revoluções ( 1789-1848) São Paulo. Ed Paz e Terra 23ª. 2008. Parte II cap.12 a16.
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